Ser treinador. Aspectos fundamentais para o sucesso.

A conceção de Joel Rocha no Futsal

Escrito a duas mãos, por Joel Rocha e Tiago Guadalupe, este artigo baseado no livro descodifica-nos a conceção de pensamento, metodologia, planeamento, processo, treino e jogo de um dos melhores treinadores do futsal mundial. 

Com base nas experiências e vivências adquiridas nos últimos 20 anos, desde a formação ao alto rendimento, Joel Rocha leva-nos, ao longo das 280 páginas deste livro (muitas deles impressas a cores), de uma forma objetiva, entusiasmante e prática, a conhecer todos os conceitos, didáticas e estratégias para quem é, ou ambiciona ser, treinador.

 

Ser treinador

Ser treinador é ter a responsabilidade, competência e eficácia de educar, ensinar e (trans)formar. A responsabilidade de ser verdadeiro, justo e coerente em todas as suas ações, reações, atitudes e comportamentos. A competência de ser um bom pedagogo respeitando na íntegra as características e singularidades do indivíduo/praticante que tem à sua frente (idade, género, qualidades, dificuldades e expectativas).

É ser eficaz para ajudar a conseguir atingir os objetivos propostos, sejam eles individuais, coletivos ou institucionais. É educar desportivamente o praticante a saber estar e saber ser, em treino e competição, respeitando as regras do jogo, os seus colegas, adversários, equipas de arbitragem e demais intervenientes no contexto (ética e fair play).

É ensinar através da prática, do treino e do exercício uma determinada forma de jogar, desde as suas ações individuais às suas ações coletivas, com princípios e regras definidas, compreendidas e respeitadas por todos. É (trans)formar um grupo de Homens numa EQUIPA, que lute junta por alcançar objetivos comuns, comprometida e solidária, com valores que a definem e identifiquem.

“O objetivo do treinador é transformar o potencial em verdadeiro rendimento. Como referi anteriormente, estamos a falar, em primeiro lugar, de SER capaz de gerir seres humanos, antes mesmo de gerir jogadores e equipas. Antes de um treinador falar ao jogador, terá que falar ao Homem. Só depois vem o futsal. Só depois vem a operacionalização da sua liderança e da sua conceção de treino e jogo.” - Joel Rocha

 

4 Áreas de competência do treinador

Com mais e melhor desenvolvimento no segundo capítulo desta obra, apresento aquelas que, à luz da minha conceção, são as quatro áreas de competência do treinador (de jovens ao alto rendimento):

  1. Competências humanas;
  2. Competências técnicas;
  3. Competências didáticas e pedagógicas;
  4. Competências de organização e operacionalização

“A importância da compreensão do papel do treinador na orientação de equipas desportivas e de jovens praticantes que procuram o patamar do alto rendimento, uma vez que as suas ações implicam não só o ensino e aperfeiçoamento das competências físicas, técnicas e motoras, como também envolvem um efeito sobre o desenvolvimento mental e emocional dos praticantes.” - Joel Rocha

 

Dinâmica de uma equipa

Os valores da nossa equipa.

Os valores da equipa são um ponto prévio fundamental, decisivo e inegociável para mim. Repito, inegociável. E quando me refiro a valores, não me refiro a valores contratuais, ou financeiros. Refiro-me antes a ações, reações, atitudes e comportamentos. Refiro-me a valores que envolvem o atleta, que moldam e norteiam o seu comportamento e que fazem parte do dia-a-dia de uma equipa de trabalho que tem objetivos e responsabilidades comuns.

Por norma apresento, no primeiro dia da época, os dez valores que pretendo que sejam a base da nossa equipa. Valores que pretendo que estejam presentes em todos NÓS através das nossas ações, reações, atitudes e comportamentos.

Costumo dizer-lhes que se alguém estiver a ver o nosso treino ou jogo, numa televisão a preto e branco, tem que conseguir identificar-nos através das ações, reações, atitudes e comportamentos que apresentamos. E não me refiro só aos meus jogadores como também ao resto do staff e a mim próprio, o treinador. Um treinador é também um “educador” e o exemplo tem que partir dele.

“Certa noite, vindo de um concerto, encontrámos um amigo nosso músico que nos perguntou: «De onde é que vêm?», ao qual nós respondemos: «Estivemos num concerto de uma orquestra famosa». Ele olhou-nos e fez nova pergunta: «E eles tocaram em conjunto ou apenas ao mesmo tempo?” - Marcus Binney

  

O perfil do jogador

Cada jogador é um ser único, e por isso, cada equipa, cada plantel, cada ano, cada época... é “algo único”. É dos jogadores que se fazem as equipas que depois suportam os jogadores. São eles “os organismos vivos” do dia-a-dia, no treino e no jogo. E pelo bem estar deles (físico, psíquico, emocional, social, coletivo) que pensamos em todos os detalhes para os poder ajudar, potenciar e fazer com que eles alcancem níveis de rendimento ainda não alcançados.

É provocar-lhes o desafio diário de que podem ser melhores. É a superação para a ambição que os tornará (nos tornará) mais disciplinados, rigorosos e convictos que “sair da zona de conforto” é estritamente necessário para o alto rendimento, o sucesso e a excelência.

Para um bom jogador no alto rendimento, é decisivo uma boa formação desde tenra idade. Quando procuramos um jogador “completo” para uma equipa sénior, procuramos, no fundo, todas as características que devemos ensinar desde a sua base inicial de formação desportiva e consequentemente aumentar o seu enriquecimento desportivo específico.

“O jogador é, de forma clara, o mais importante de todo o processo. É por ele e para ele que pensamos, planificamos, periodizamos e operacionalizamos. É, na minha conceção atual, por ele e para ele que idealizamos uma forma de jogar, que definimos uma forma de treinar e de nos preparar e que juntos traçamos objetivos com o clube que representamos. Cada jogador é um ser único, e por isso, cada equipa, cada plantel, cada ano, cada época... é algo único.” - Joel Rocha

 

O treino

Modelo de ensino do jogo.

Entendo que o início deste caminho se deve preocupar com o praticante “como ser único” e a sua relação individual com a bola, com a baliza que ataca e a baliza que defende.

Começo pois, o ensino do jogo e de uma forma de jogar (a minha forma de jogar — nem pior que outras, nem melhor que outras, “apenas” uma forma de jogar com características e princípios próprios) pela ação técnica e tática individual em situações de 1x1 e de 1xGR, ou seja, o que eu pretendo com este primeiro patamar é que o meu praticante “uno” seja capaz de saber o que fazer, como fazer e quando fazer, com e sem bola, em cada metro quadrado do campo.

É exigente? Sim! É possível? Claramente! Simplificando: quando tenho a bola quero atacar a baliza. Quando não tenho a bola, quero recuperar a bola para atacar a baliza. Os “comos” e “quandos” são as respostas práticas oriundas da ação.

“É com base na bola, na sua posição e nas relações que se estabelecem por ela, para ela e em função dela, que neste capítulo irei abordar a minha conceção modelo de ensino do jogo. Qual o ponto de partida, qual o caminho e o ponto de chegada. O que fazer, como fazer e quando fazer? É numa evolução gradual e sistematizada que entendo o processo ensino aprendizagem do jogo de Futsal e de todas as suas partes e componentes envolvidas.” - Joel Rocha

 

O jogo

Para um jogo e um jogar de qualidade, é exigido aos jogadores e às equipas uma preparação muito específica, detalhada e pormenorizada. Apresento de seguida, de acordo com a minha conceção, as diferentes variáveis que encontramos no jogo, e que por essa razão, as devemos considerar, preparar, delinear, programar, visualizar, treinar, propor, apresentar, treinar, consolidar e sistematizar, de forma a poder transferir tudo para... o jogo! Para mim, nada é por acaso e não há coincidências!

Quero que um jogador por mim treinado e uma equipa por mim liderada, chegue ao jogo e ao apito inicial e esteja de tal forma pronta e preparada que nada do que aconteça ou possa acontecer seja novidade ou surpresa! Bem sabemos que existem situações que não controlamos, acontecimentos inesperados e algumas vezes até inusitados, só que até para esses momentos, temos que estar preparados para dar resposta afirmativa e positiva às necessidades da equipa e do jogo.

É por essa razão, que antecipo e preparo vários cenários que podem acontecer e mais que isso... O que fazer e como fazer perante tais situações. Do normal e básico, ao difícil e inesperado, é bom ver e sentir que a nossa equipa está identificada com a nossa identidade e com aquilo que são as adaptabilidades em função das características e comportamentos adversários.

“O mais bonito, rico, complexo, imprevisível, apaixonante e desafiante de tudo é o jogo. Jogar! Competir! Jogar com um propósito, um objetivo, uma ideia comum! Afinal, é para “isto” que existimos, vivemos e nos preparamos: para simplesmente... jogar! É o momento de nos enfrentarmos e confrontarmos com adversários e equipas e nos expormos às nossas dificuldades e fragilidades, bem como às nossas qualidades e capacidades.” - Joel Rocha

 

 “O treinador actual deve ser, para além de um especialista na sua área de conhecimento, um gestor de recursos humanos porque é com homens que trabalha, são homens o seu objeto de estudo. - Manuel Sérgio (filósofo, escritor, político, pensador, professor catedrático)

De forma exclusiva e pela primeira vez, um treinador de topo partilha os seus mais recentes documentos, segredos e estratégias do dia-a-dia de trabalho numa equipa de alto rendimento. Ficaste curioso? Descobre mais no meu novo livro "Ser treinador".

Comentários

  • FB
    Filipe Beja

    Excelente artigo, pela mão de um excelente treinador, líder e ser humano.

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Jaquim Alberto